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24/09/2018

Campos Novos sedia reunião sobre incentivos ao plantio de cereais de inverno

Que a escassez do milho para alimentação de animais – especialmente aves e suínos é um grande problema enfrentado no estado de Santa Catarina – não é nenhuma novidade. Isso se dá principalmente no Sul do país, porque é onde está a maior concentração de criação e produção de suínos. A cadeia produtiva de aves também consome uma quantidade muito significativa do grão, já que o Brasil ocupa o segundo lugar na produção de carne de frango no mundo. Pelo fato do Brasil estar entre os maiores produtores de proteína animal do mundo e o consumo do milho estar com déficit de quatro milhões de toneladas, a falta de matérias prima para alimentação animal é preocupante e necessita de solução.



Pensando nisso, no mês passado, começaram tratativas entre órgãos representantes dos produtores rurais como, a Federação das Cooperativas Agropecuárias (Fecoagro),  a Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), a Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina (Faesc) e representantes  de cooperativas, juntamente com a Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca de Santa Catarina, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), além de representantes de agroindustrias do estado catarinense. Eles compartilham conhecimentos para viabilizar um programa de produção de cereais de inverno para faricação de ração animal. Até agora foram três reuniões, sendo duas distintas – sem a presença da agroindustria, com pautas voltadas à incentivos para o plantio de cereais de inverno, especialmente trigo, aveia branca, cevada e triticale, para produção de rações. A primeira aconteceu em agosto na cidade de Chapecó (SC), a segunda em Esteio (RS) – durante a Expointer e o terceiro encontro foi em Campos Novos (SC), na  última quarta-feira (19).



Em Campos Novos a reunião – dirigida pelo presidente da Coocam, João Carlos Di Domenico, que participa diretamente do projeto por meio da Fecoagro/SC devido a cadeira que ocupa como vice-presidente da Federação – aconteceu na sede da cooperativa e contou com a presença do secretário da agricultura de Santa Catarina, Airton Spies e representantes da Epagri, da Embrapa Suínos e Aves, da Embrapa Pesquisa e técnicos das cooperativas Coocam e Copercampos. Um dos objetivos dessa terceira reunião, foi falar sobre fazer um piloto em Campos Novos - cultivando o trigo para ração e assim, dar sequência ao projeto. “A verdade é que nós precisamos recomeçar uma cultura de inverno e acreditamos que, especialmente o trigo, pode voltar muito forte em nossa região”, disse João Carlos Di Domenico durante a reunião.



Na opinião de João Carlos Di Domenico, para viabilizar essa problemática da escassez de matéria prima para alimentos animais, três áreas são essenciais e precisam estar integradas. 1ª – O produtor e suas cooperativas, criando programas e fomentando a produção. 2ª - O governo do estado criando situações economicas para viabilizar os projetos, especialmente o financiamento dessas safras, via seguro ou subsidios para ajustar os valores. 3ª – O interesse das agroindustrias pelo processo, pois, a cadeia produtiva precisa do consumidor final e os moinhos (hoje os consumidores finais), preferem importar o trigo do que utilizar a produção de casa. “Estamos procurando um novo canal de comercialização. Isso vai resolver os problemas do produtor, das cooperativas e das agroindustrias, já que nos momentos de crise do milho, teríamos o trigo para amenizar o problema”, explicou João Carlos.



O uso preferencial do trigo é destinado, via de regra, para alimentação humana. Entretanto, pode ser destinado viável e vantajosamente também para a alimentação animal, conforme o projeto para fomentar a cultura de inverno, em andamento. Na formulação de rações, o trigo e o triticale podem ser usados sem restrições como fonte energética e protéica.  Caso haja aceitação das agroindustrias, a primeira fase do projeto deve iniciar no final dessa safra de inverno, de forma experimental.



Segundo Airton Spies, até 2020 haverá um incremento de cerca de 20 mil matrizes de suínos em Santa Catarina, aumentando ainda mais a demanda por alimento. “Redescobrir a nossa vocação para o cereal de inverno é um novo paradigma”, disse o secretário durante a reunião, informando que a BRF e a Aurora estão interessadas no projeto.  “As duas empresas estão disponíveis para sentarmos e negociarmos”. A ideia é mostrar para as agroindustrias que elas podem ganhar, optando pelo uso de trigo como ração.



Cultura de trigo atualmente



A cultura de inverno já foi destaque em Campos Novos, todavia, a falta de incentivos e a instabilidade de preços fez com que os produtores deixassem de lado. Hoje grande parte das lavouras são utilizadas com coberturas de solo durante o inverno. Essa decisão dos produtores tem várias fatores em evidências. O trigo, por exemplo, dependente das condições climáticas. Como o cereal não é uma commodities, o produtor não sabe por quanto vai vender. Outro fator determinante para essa desistência do plantio da cultura de inverno está ligado ao baixo preço oferecidos pelas agroindustrias, inviabilizando o custo.



“Há 30 anos atrás se produzia trigo como se produz soja hoje”, disse Riscala Fadel Junior, produtor e vice-presidente da Coocam. O produtor perdeu a vontade e a coragem de plantar trigo e será preciso buscar alternativas para reanimá-los. A ideia é criar um novo ambiente sobre a cultura. A região de Campos Novos consegue produzir uma média de 60 a 70 sacas por hectare, tendo casos de produtores que colherem quase 100 sacas/ha. Hoje em Campos Novos, tem pelo menos, 20 mil hactares ociosos que podem serem ultilizados para plantar culturas de inverno.



Mais sobre a reunião



“Foi muito produtiva porque conseguimos conversar sobre soluções para a produção de inverno na região. Aproveitando essa oportunidade que a crise do milho trouxe para a agroindustria, principalmente para a área de ração da produção de carnes, a cultura de inverno é uma alternativa para ajudar a amenizar a crise do milho. Temos espaços e nós produtores e cooperativas precisamos fazer com que a cultura de inverno volte a ser forte, afinal, isso também otimiza e viabiliza a produção no campo.” – João Carlos Di Domenico – presidente da Coocam e vice-presidente da Fecoagro/SC.



“Cada reunião que a gente faz, ajustamos as questões técnicas e o que devemos fazer para atingir as metas. A Embrapa tem algumas responsabilidades, que é auxiliar as cooperativas na escolha e identificação dos melhores cultivares para serem adequados nesse perfil de uso na alimentação de aves e suínos. Os programas de melhoramento de trigo que foram desenvolvidos até então, nunca focaram no aspecto de trigo para ração de animas – aves e suínos. A gente sempre focou principalmente em questão de panificação. Agora vamos trabalhar em duas linhas: A questão pontual e momentânea, que é identificar dentro dos materiais já existentes, aqueles que possam ter potencial para uso imediato e assim, fazer rodar esse programa. Paralelamente vamos trabalhar em um processo a média e longo prazo, tentando introduzir dentro da linha de melhoramento genético da Embrapa, um trabalho focado na nutrição de aves e suínos.” – Eduardo Caierão, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves.



“Tivemos uma reunião muito produtiva, justamente para dar encaminhamentos práticos das ações que precisam ser feitas, como por exemplo, a construção de um programa de garantias de mercado ao produtor com a agroindustria e o envolvimento das cooperativas no fomento da produção. Estamos muito organizados. Vamos à diante com esse projeto, para aproveitar as terras durante o período de invernoe produzir, cereais para transformar em ração animal.” – Airton Spies, secretário da agricultura de Santa Catarina.




Fonte: Assessoria de Imprensa Coocam